Esse ditado popular, conhecido por muitos de nós, é algo que me foi dito uma vez por alguém que muito amo, e que muito já sofreu. Mas essa frase me causa incômodo, sinto que parece ser repetida automaticamente como tantos outros bordões, romântica e ingenuamente a fim de justificar e naturalizar o sofrimento que que nenhum de nós deveria gostar de viver.
Ao mesmo tempo, me instiga. Me faz ver beleza na dor superada, nas feridas estancadas, nas histórias que nos fazem ser quem somos, nas cicatrizes que carregamos. Se calca na consciência de que, sem ter sido quem já fomos, jamais seríamos quem somos hoje. Sinto que cada detalhe de cada pequeno momento de nossas peculiares, pessoais e únicas histórias, são cruciais para a determinação do que somos, como agimos, como pensamos, são as nossas experiências que ditam nossos medos, traumas, afetos, alegrias. Somos a junção de todos esses fatores, sejam eles prazerosos ou traumáticos.
Também me faz pensar na impotência humana de evitar a nossa própria dor, e a dor de quem se ama. Penso no carinho que tenho pelas minhas lembranças, e pelas lembranças de quem amo, como se as ouvindo eu pudesse me transportar para cenas que jamais presenciei, e compreender o sentimento que não é meu. E me transportando pra esse lugar eu consigo capturar fotos desses momentos, dessas lembranças, como capturo das minhas. Na verdade sou capaz de capturar a minha própria memória da memória do outro.
É sobre isso que meu álbum mar calmo (nunca fez bom marinheiro) fala. Ele é um álbum das minhas fotografias pessoais, íntimas e nuas, somadas às fotografias de pessoas que eu amo, e me presentearam com elas.
"Eu acho que a gente é feito de histórias, né?
De memórias que de alguma forma, se fixam na nossa mente, no nosso corpo, e em lugares que a gente nem consegue explicar.
E essas coisas moldam a mim, e moldam você…
E as histórias, são feitas de momentos, momentos que enquanto estão sendo vividos, a gente nem percebe que eles são grandiosos. Nossa história é uma junção de acasos que acaba traçando uma linha do tempo. E a gente só percebe a grandiosidade desses pequenos momentos quando por algum motivo, nos damos conta que viemos parar em um lugar inesperado, percebemos que se algum detalhe tivesse sido diferente, estaríamos agora em um outro lugar."
natália carreira
Em 2020 natália se forma bacharela em Artes Visuais pela UnB, e cruza música com visualidades em sua monografia, defendendo o álbum de música como galeria de arte, e o fonograma enquanto objeto de arte, tendo como produto final, seu álbum mar calmo (nunca fez bom marinheiro), um álbum de músicas e uma exposição de arte virtual.